quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Pagando penitência

No meu apartamento, alugado, o piso é branco. Mas não é uma cerâmica lisa; é do tipo antiderrapante, uma necessidade de sua antiga moradora, uma senhora com deficiência de locomoção. Há um ano, desde que aqui resido, tento clarear, deixar o mais próximo possível do que eu imagino fosse o aspecto original. Não sei como ela “suportou” essa e outras particularidades desta residência. Às vezes eu brinco: parece que ela se detestava ou era um tanto masoquista. Uma superfície branca e que não é lisa, com sinuosidades onde a sujeira se acumula; superfícies, de dependências de serviço, em declive que contraria a lógica, impedindo o escoamento de água em direção aos ralos; antes, fazendo com que deslize diretamente para a porta da rua. Lavar? Impossível.

E o que eu faço aqui? Seria, também masoquista? Estaria pagando alguma penitência? Não sei. Sei que não desisto fácil diante de um obstáculo, no âmbito doméstico ou fora dele.

Gastei bastante com produtos para limpeza de pisos e, finalmente, na falta de tais e com os resultados pífios, testei uma velha conhecida de qualquer dona de casa: água sanitária pura. Deu certo! Finalmente o piso voltou a ser branco. Minhas mãos, à vista do mal trato a que foram submetidas, até que estão bem. E a empregada? Ela apenas ajuda. Quando faço algo que traga algum risco, faço eu mesma. A imprudência de usar o produto puro deve ser arcada por quem decide ser imprudente não é mesmo? Vejo, às vezes, empregadas domésticas penduradas em janelas de apartamentos, sem qualquer proteção. Se há risco, por que expor os outros?

Procuro usar toda a prudência possível quando decido ser imprudente! Tomo cuidado, não se trata de uma tentativa de suicídio, de auto-imolação rsrrsrsrsrs...
Mas, e quanto à outra pessoa, que garantia eu teria de que ela seria paciente e cautelosa de modo a se expor o mínimo possível?

Mas, a verdade é que, a dona de casa sempre extrapola, faz mais do que suas capacidades físicas lhe permitem: arrasta móveis pesados mudando a decoração, sobe e desce secador de roupa, executa os tais movimentos repetitivos causadores da LER limpando o chão, lavando os pratos, descascando legumes, batendo a massa, passando roupa, varrendo a casa... Se não é a dona de casa, é a empregada. Há sempre uma mulher provendo a ordem e o conforto.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Existe uma "escola de pais"?

O Pedro disse: eu quero ser tudo o que o homem pode ser: eu quero ser irmão, eu quero ser tio, eu quero ser pai, eu quero ser avô... E indagou: Vó, você também é filha, não é?

Sou Filha, mas, ainda não sou tudo o que uma mulher pode ser rsrsrsrsrsrs.
Em compensação acho que posso gabar-me de estar proporcionando um ambiente familiar agradável para o Pedro. Tanto que ele, tão espontaneamente, dá esse incrível relevo aos afetos, às relações familiares; e projeta, para si, um futuro rico onde, seja qual for a profissão, e os ganhos, o prêmio maior, o alvo principal, será o outro de quem ele será pai, tio, avó...

Bom que ele, tão jovem, já sabe tudo!!!!!! Sabe tudo o que realmente importa. Só não sabe que dispensar as receitas da vovó é falta de educação; e que miojo não é alimentação! Quem lhe ensinou? Ou não ensinou?

Educamos e deseducamos. E resta-nos nutrir a expectativa de que eventuais prejuízos serão superados; apagados pelo tempo; ou pela Psicanálise?
Afinal, existe uma escola de pais?

domingo, 16 de setembro de 2007

Tem miojo, vó?

Sozinha, por 4 meses sem empregada, exercitei minhas habilidades “femininas” e, à falta delas, usei meus truques. Para mim, que sou prática e acelerada, fazer o trivial com poucas variações aqui de casa, copiando receitas de programas de TV, de livros e de jornais, não funciona: tudo me parece complicado, com ingredientes que não estão disponíveis em casa e que, quando busco nos supermercados, não encontro facilmente. Foi aí que descobri um endereço virtual, que já está devidamente linkado, o Tudo Gostoso.
O diferencial é que as receitas são postadas por internautas; testadas e comentadas por cada um que as executa; e que volta ao site para registrar seu entusiasmo, contar como foi maravilhoso o almoço de domingo, em família, ou o bem sucedido jantar a dois para comemorar o aniversário de namoro ou casamento... E, até, para protestar contra quem ousou criticar uma receita: “sai fora, a receita é boa, trate é de aprender a cozinhar.”

Pedro, o meu neto de 5 anos, não se entusiasma com os meus resultados. Está com manias limitadoras típicas de adolescentes (hoje, é tudo tão precoce); nem quer experimentar! Seu lema: “não sei, não quero saber...”, “não comi e não gostei”; tem miojo vó?