quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Funções tipicamente femininas: psicóloga, professora, enfermeira ...

Referências preconceituosas ao trabalho doméstico sempre me desagradaram. Não consigo entender o preconceito de muitas mulheres que, tanto quanto certos homens, não reconhecem o valor de um trabalho que só não é um trabalho como outro qualquer por ter mais importância que todos os demais. Pode, até, não ser prazeroso, pode ser estafante, por vezes... Mas só não lhe reconhecem o valor, por ironia, justamente aqueles que sempre tiveram quem lhes atendesse, como camareiras de luxo de um hotel 5 estrelas rsrsrsrsrsrsrsrrsrsrs.

Lembro-me que, ao aproximar-se a data da minha aposentadoria muitos me indagaram o que seria dos meus dias, em casa, que futuro sem graça, sem charme, sem vestir aquele “traje de executiva”, todas as manhãs... Mais ou menos como se o valor da existência feminina, antes completamente associado ao exercício dos papeis de esposa e mãe, agora dependesse da permanência no espaço profissional.

Por isto, ao desenhar o meu perfil, sublinhei a minha condição de “dona de casa que toma conta do neto e de outros afazeres domésticos”, papel de que muito me orgulho. Não precisamos mais provar que podemos “existir” fora do lar. É hora, portanto, de avaliarmos a nossa própria visão quanto à função de educadora, psicóloga, enfermeira, nutricionista, economista, decoradora, faxineira, cozinheira ... Ufa! O quê mais?! Tantas profissões cabem no papel de “dona de casa” que, algumas delas, também passaram a sofrer do mesmo estigma, na medida em que foram qualificadas, sempre com altas doses de sarcasmo, como profissões tipicamente femininas.

Apesar do título, “bobagens e bobeiras”, está visto que a idéia não é desqualificar a temática que, tão importante quanto a do meu outro blog, faz parte do perfil em associação à profissão que exerci até a aposentadoria.

Torço para ter mais visitas femininas e, quem sabe, comecemos algumas discussões e desabafos interessantes, onde os homens serão bem vindos é claro.

O interessante é notar que também a educação tem sido desqualificada, tratada como coisa menor, sem a merecida relevância, os professores recebendo salários de merreca enquanto grupos chamados de elite, no Serviço Público Federal, ganham salários nababescos. Por que será que, justamente aquilo que cerca mais de perto o ser humano, que pode tocá-lo e promover verdadeiramente o seu crescimento, o lar e a escola, recebe esse tratamento de segunda, da sociedade e dos governos?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Quem está no comando?

No artigo anterior, declarei que não desisto diante de obstáculos. Às vezes, desisto. A insistência, diante de certas situações, pode sinalizar a nossa dificuldade em aceitar o inevitável, de sair em busca de outras soluções, de tentar trilhar outros caminhos.

Desisti, por exemplo, do casamento. Faz muito tempo; mas, ainda me lembro das incontáveis vezes em que tive de ouvir a seguinte frase: você está pensando que é o homem da casa?

Ser casada, para a minha geração, significava abdicar do direito de pensar e de decidir. E, ainda agora, com a velha desculpa de que “é preciso combinar, dividir” há pessoas que, autoritariamente, tolhem seus companheiros.

A cada passo, prestar contas, dar satisfação? É praticamente impossível já que decidir e escolher, rapidamente, é uma exigência que a vida moderna impõe, a cada momento, a homens e mulheres. Logo, é preciso, sobretudo, confiar e respeitar o outro.

No passado, já remoto, quando os papeis, feminino e masculino, eram nitidamente distintos e a vida transcorria, lentamente, sempre igual, geração após geração, pouco havia o que ponderar. Mas, especialmente a partir dos anos 70, ver-se na contingência de “pedir permissão” ...

Recentemente, me surpreendi quando uma mulher respondeu a um anúncio que publiquei para vender móveis em desuso, tudo bem baratinho. Ela ligou, indagou, veio à minha casa aproveitando o intervalo de almoço; e decidiu parcialmente: precisava aguardar o retorno do marido que estava viajando. Comprou uns itens e outros não. Precisava “pedir autorização” para usar o seu próprio dinheiro!

Desculpar, relevar deslizes ou substituir a empregada? Aproveitar o marceneiro da vizinha e consertar, embelezar os móveis? Fazer as compras do mês hoje ou aguardar a promoção da semana que vem? Ou comprar semanalmente aproveitando promoções ocasionais? Substituir as cortinas aproveitando a promoção que acabou de encontrar na lojinha da esquina? Não complementar para o jantar, quem quiser que faça um lanche... Reformar o banheiro ou trocar de carro?

Há quem exija discutir sobre tudo, compartilhar tudo, principalmente quando há gastos envolvidos. Melhor dizendo, há os que gostam de exercer o poder e para isto não hesitam em contrariar a lógica: “como ousa agir por conta própria? Desfaça agora mesmo!” é o lema dos viciados em mandar que, por isto, sempre encontrarão mil pretextos para desmerecer a iniciativa alheia, especialmente as iniciativas femininas.