sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Não alugo o meu tempo

Ando sempre em busca de alguma coisa em que me empenhar, me comprometer. Penso, repenso e não decido por qual tipo de ocupação fixa vou optar. Logo, me dou conta de que não quero nada, sou uma “preguiçosa” de carteirinha. Estou curtindo essa liberdade de ser a dona do meu tempo.

Esses dias, contestei a minha empregada que reclamava do que estava pagando à pessoa que cuidava do filho dela, remoendo que a fulana não fazia nada, só tomava conta do menino. Ora, mas a fulana estava alugando o que lhe era mais precioso, o próprio tempo, dispondo de um dia inteiro para estar na casa alheia, enquanto a dona não voltava do trabalho.

Quase todos, uns mais, outros menos, somos escravos de rotinas muito pesadas. A mulher, então, nem se fala. A sensação de opressão, nessas circunstâncias, está sempre presente. Às vezes, o coração acelera, as mãos transpiram enquanto mantemos os olhos pregados no relógio, cientes do pouco tempo que nos resta para concluir uma tarefa já que um outro compromisso nos espera. E passamos a vida a correr, para garantir a sobrevivência. Certo que, alguns, correm para sustentar vícios de consumo exagerados. Mas, para a maioria, em que eu me incluo, trata-se de questão de sobrevivência: para garantir o básico.

Não, hoje, estou fora dessa maioria; faço parte da minoria que tem tempo. E, às vezes, percebo que há um certo sentimento de culpa tentando ditar meus passos, querendo brigar com essa preguiça. Quem vencerá?

O bom senso deve prevalecer. Afinal, ainda não descansei o suficiente do tempo que passei correndo. E, de qualquer modo, ainda que descansada e entediada, nunca mais alugaria o meu tempo.

Lembro-me de um escritor que, em entrevista ao Programa da Oprah Winfrey, contou como fizera para sobreviver sem trabalhar, jamais abrindo mão de ser o dono da própria vida. Obviamente que, ao comparecer àquele programa, já detinha condição financeira que lhe permitia essa escolha, um escritor famoso; mas, no passado não era assim.

Sempre podemos encontrar um jeito simples de viver, sem atender aos apelos do consumo,sem entulhar o guarda-roupa e a sapateira, sem entupir a casa de eletro-eletrônicos... e, principalmente, planejando melhor a família e a vida. É o que faria se precisasse recomeçar.

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