terça-feira, 2 de outubro de 2007

Quem está no comando?

No artigo anterior, declarei que não desisto diante de obstáculos. Às vezes, desisto. A insistência, diante de certas situações, pode sinalizar a nossa dificuldade em aceitar o inevitável, de sair em busca de outras soluções, de tentar trilhar outros caminhos.

Desisti, por exemplo, do casamento. Faz muito tempo; mas, ainda me lembro das incontáveis vezes em que tive de ouvir a seguinte frase: você está pensando que é o homem da casa?

Ser casada, para a minha geração, significava abdicar do direito de pensar e de decidir. E, ainda agora, com a velha desculpa de que “é preciso combinar, dividir” há pessoas que, autoritariamente, tolhem seus companheiros.

A cada passo, prestar contas, dar satisfação? É praticamente impossível já que decidir e escolher, rapidamente, é uma exigência que a vida moderna impõe, a cada momento, a homens e mulheres. Logo, é preciso, sobretudo, confiar e respeitar o outro.

No passado, já remoto, quando os papeis, feminino e masculino, eram nitidamente distintos e a vida transcorria, lentamente, sempre igual, geração após geração, pouco havia o que ponderar. Mas, especialmente a partir dos anos 70, ver-se na contingência de “pedir permissão” ...

Recentemente, me surpreendi quando uma mulher respondeu a um anúncio que publiquei para vender móveis em desuso, tudo bem baratinho. Ela ligou, indagou, veio à minha casa aproveitando o intervalo de almoço; e decidiu parcialmente: precisava aguardar o retorno do marido que estava viajando. Comprou uns itens e outros não. Precisava “pedir autorização” para usar o seu próprio dinheiro!

Desculpar, relevar deslizes ou substituir a empregada? Aproveitar o marceneiro da vizinha e consertar, embelezar os móveis? Fazer as compras do mês hoje ou aguardar a promoção da semana que vem? Ou comprar semanalmente aproveitando promoções ocasionais? Substituir as cortinas aproveitando a promoção que acabou de encontrar na lojinha da esquina? Não complementar para o jantar, quem quiser que faça um lanche... Reformar o banheiro ou trocar de carro?

Há quem exija discutir sobre tudo, compartilhar tudo, principalmente quando há gastos envolvidos. Melhor dizendo, há os que gostam de exercer o poder e para isto não hesitam em contrariar a lógica: “como ousa agir por conta própria? Desfaça agora mesmo!” é o lema dos viciados em mandar que, por isto, sempre encontrarão mil pretextos para desmerecer a iniciativa alheia, especialmente as iniciativas femininas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muitas pessoas aderem a essas situações por mera rotina, Luisete.

São, ainda, consequências de uma sociedade como a nossa, que evoluiu mais rápido do que se imaginava que poderia evoluir...

Tinha deixado a incumbência para ti, do me-me da 5ª linha da 161ª página...vá lá no meu blog depois... se quiser participar.

Abraço!