quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

SEM TALENTO E SEM AUTO-COBRANÇAS

A minha sorte é que, enquanto o meu talento para decoração era zero, por divina "coincidência" eu também não prestava muito atenção ao redor; a desordem exterior me incomadava pouco. Aliás, eu nunca fui muito visual; sempre introvertida, olhando mais adiante num ponto perdido qualquer. Roupas, rostos, belos, feios? Não me perguntem cores ou tamanhos que a minha memória não retém. Sempre passei por "metida", nessa imersão involuntária.
E comprando adornos para casa? Perco-os, muitas vezes. É que, na loja, são lindos, me atraem irresistivelmente. Chegando em casa, um desastre, não tem nada a ver; me dou conta de que a peça não se adapta a lugar algum. Fico, então, escrava dos tons pastéis, onde o risco de errar é menor. O pior é que eu amo cores berrantes, vivas mas tenho que evitá-las. Elas falam à minha sensibilidade mas o cérebro não faz a sua parte, não organiza os tons e os objetos. Eta sensibilidade esquisita!
Li, e me apaixonei, um livro do Neurologista Oliver Sacks, Um antropólogo em Marte. E havia o relato da experiência do tratamento de um pintor que conseguia retratar uma cidade inteira, de memória: mistérios de um cérebro privilegiado em um setor e deficiente em vários outros. Penso que cada um de nós tem seus próprios mistérios neurológicos.

Nenhum comentário: